domingo, 3 de novembro de 2013

As Nebulosas


Com quem conversas tu, floco distante e baço?
Mal ouvimos-te a voz em todo o vasto espaço.
Só te podemos ver como um nimbo soturno
Num perdido desvão do vasto azul noturno.
Brilhar nos deixa em paz, a nós, albor do etéreo,
Nós, mundos espectrais em meio ao caos funéreo,
Não tendo pólo austral nem pólo boreal;
Nós, a realidade a viver no ideal,
Os mundos de onde, enxame imenso, os sonhos vêm,
Dispersos no éter, esse oceano que não tem
Praias, de que jamais pôde a onda retornar;
Nós toda a criação, ilhas do ignoto mar!

Victor Hugo

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Panis et Circenses

Eu quis cantar minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei fazer de puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
Mandei plantar folhas de sonhos no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Essas pessoas da sala de jantar
Essas pessoas na sala...

terça-feira, 23 de abril de 2013

É tudo deliberado em demasia!


 ''Sou pueril, feita de frivolidades, desatenção e poesia. E ainda há nisso tudo uma memória muito confusa. Queria ser tudo, queria poder tudo. Mas o fato, é que isso é desejar demais, me contentarei em ser essa massa disforme, da qual nem eu mesma sei distinguir o que é?  Passei a juventude toda tentando me descrever, esmiuçar o que havia por trás do meu rosto comum, o que pareava a minha mente, que nem sempre se portava do modo devido. E hoje me vejo sem saber ao certo o que sou. Se na verdade, me projeto, e apenas tento representar esse tipo ideal, que anseio ser. E mudo conforme a situação, me porto de acordo com as convenções. Isso é realmente triste. É tudo deliberado em demasia. Tento olhar pra dentro do meu ser, mas não consigo enxergar nada, é tudo tão soturno! Mas em contrapartida, sinto as coisas de modo muito intenso, de maneira muito abusiva... queria sentir menos, tentar a indiferença sem maiores pertubações. Dentro de mim, nada é mensurável, de nada eu tenho controle, as sensações simplesmente ocorrem, de modo ruim ou não, elas estão acontecendo a todo momento. O que delibero são as representações. Eu estou representando algo, não sou de fato. Me recrio sempre, estou tentando ser o que idealizo, e isso ocorre de modo inconsciente. Quando me ponho a pensar sobre, vejo que  é assim que acontece. Será isso algo triste? Desanimador? Se ao menos eu conseguisse ser o que desejo. Mas não... eu sou toda ao contrário. Sou o tipo menos ideal possível. Uma espécie de sentimento de fracasso permeia a minha mente essa noite. Antes parecia ser mais fácil dominar as ações, as expressões, mas hoje parece cada vez mais que impressão alheia sobre mim, é qualquer coisa da qual eu não faço idéia, mas eu acho que será sempre, por todo sempre  ruim.  E esse é um fato fechado em si mesmo, secreto, eu posso tentar perceber, mas nunca a percepção se dará de modo completo...Eu olharei para o espelho, serei qualquer coisa menos comum. Que a parvoíce se aproprie de mim, estou tomada  por tudo que se refere a devaneios... E o que poderei fazer quanto a isso? '' 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Os mandarins

''Não, não quero chorar. Na verdade não choro, disse a mim mesma. São as luzes da noite que tremem em mim, e sua cintilação se condensa em gotas salgadas a margem dos meus cílios. Porque eu estou aí, porque não voltarei, porque o mundo é rico demais, pobre demais, o passado é pesado demais, é por demais leve, porque não posso fabricar felicidade com essa hora bela demais, porque o meu amor morreu e eu lhe sobreviverei. ''   (...)

Simone de Beauvoir.

terça-feira, 2 de abril de 2013

As Idéias Ruins

. Há muitas coisas sobre mim. E nenhuma delas eu consigo compartilhar de modo completo. Há uma vasta quantidade de palavras guardadas, idéias aprisionadas, sentimentos submersos. E pensei em escrever sobre, tirá - los de mim, estou sufocada em um mar de idéias ruins. De repente, eu acordo me percebendo, me sentindo de um modo diferente. De repente tudo mudou, se dilacerou, e eu ainda estou parada, desnorteada, observando de um modo tonto. E eu não sei o que fazer, o que pensar. No momento que tudo me obriga a digerir o termo 'mudança'. Me obriga de maneira perversa, me abstém do conforto do conformismo, e me lança pra frente de modo nada gentil. E nesta noite, eu penso em tentar a sorte em um jogo novo, Eu tenho a possibilidade de jogar ou ficar parada, olhando, vivendo do que não foi.
Quero o ar livre que a minha poesia tinha, que a minha mente possuía. Quero a liberdade da minha mente poética, é isso que eu sou : poesia.
Tenho que esquecer um porção de coisas, tenho todo o tempo, mas não o ânimo, a coragem. Eu só tão covarde. Tão pueril.  Estou tentando subverter a ordem dos meus desejos, e me guardarei pra mim, só pra mim, na loucura, e na esperança que isso me faça bem. Eu agirei de modo correto, seguirei as regras, e me aprofundarei na idéia geral de aceitar as mudanças, abrirei caminho pra isso.
Quero tudo rápido, tenho pressa, a minha calma se esgotou. O meu orgulho se atrofiou. Estou falída e sozinha. E não há nada e nem ninguém que me acompanhe. Este é o eterno mundo dos 'indivíduos', destas solitárias pessoas, que destilam todo o seu modo blasé, em meio a uma multidão de almas, que não se conhecem,não param para se ajudar, não param nem se quer para prestar atenção em suas próprias vidas, porque não há tempo, e para isso não dão a mínima. Quem me acompanhará, se não eu mesma?

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

***

. - Este momento. É redondinho, está suspenso no vácuo como um diamante. Eu sou eterna. (Sartre - A Idade da Razão)

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

E nada fará o menor sentido .

'Volte logo, você é gentil'- eu pensei. Dê uma volta, leia Sartre e me diga o que sentiu. Mas seja claro, rápido, eu tenho pressa. Você consegue ser tão calmo. A minha expressão diz isso, mas por dentro tudo deseja transbordar. Eu disse que iria explodir, mas resolvi tomar um café. Eu olhei a janela e ela estava brilhando, precisei fumar algo pra ver isso melhor. Eu disse algo sobre 'essência' e você me olhou torto. Quero que saiba que tudo em mim é poesia, e eu não sei direito o que falo, eu só finjo que sei. É assim que as coisas são, é tudo sensação. Você finge que não, mas não sabe falar direito daquilo que não sente, seja ele abstrato ou concreto. Eu gosto que concorde comigo, que diga que eu sei de todas as coisas, porque sei que finjo bem. Eu queria ser mais ausente, ficar escondida. Mas quando você voltar, será tudo distinto de agora, porque vamos viver em algum lugar distante, ninguém nunca nos encontrará, você trará coisas diferentes para comer, será tudo calmo, e nada fará o menor sentido.