terça-feira, 30 de dezembro de 2014

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Eu não quero falar sobre mim, eu queria escrever sobre o mundo e sobre as coisas que acontecem expressando a minha compreensão, mas me sinto incapaz de falar sobre qualquer coisa. Tudo parece tão complexo e sempre penso que alguém irá ler aquilo que escrevi e achar uma estupidez, uma falta de informação latente, que se talvez eu tivesse lido tais teorias eu não estaria falando daquela forma, sob tão obscuro prisma. Tal pessoa irá me culpa, ‘ora, como quer escrever sobre determinado assunto se não o domina de fato?’. Talvez depois de finalizar um doutorado, que tiver uma teoria própria, estarei verdadeiramente apta a falar livremente sobre aquilo, a teoria será minha e ninguém terá o direito de dizer ‘você não leu o suficiente’, ‘ora a teoria é minha, você que não a leu o suficiente.’ Pena que será um único assunto, será mesmo que estamos destinados a sempre saber tão pouco? O volume de conhecimento que a modernidade carrega por vezes me irrita profundamente.

Sobre finais. Porque será que inventamos o ‘final feliz’ ? Será que para não contar as crianças o verdadeiro fim das coisas? Ou para enganar a nós mesmos? Vejamos, quem, ou quais pessoas criaram a tal de ‘vida feliz após a morte para aqueles que foram boas pessoas’ ? É a partir de tal fato que cheguei a conclusão de que os humanos não são seres bem resolvidos. Na verdade são seres birrentos e mimados. Eles não aceitam sua finitude como um dado. Não posso falar de outras culturas, mas a cultura ocidental tem uma dificuldade enorme de lidar com a morte, e isso é perceptível desde sua mitologia que sempre culmina na ‘eternidade’ - outra pergunta a ser feita seria : de onde tiramos esse termo ‘eternidade’ se ele simplesmente não existe de fato para nós, ou seja, ninguém conhece absolutamente ninguém ou nada que seja eterno. Inventamos o termo justamente para nos livrarmos da terrível realidade que é o fim. Toda mitologia ocidental está presa a não aceitar a morte. A mitologia científica também possui essa característica. Ela têm somado esforços constantes para tornar a imortalidade um fato viável. Eu, como uma ocidental típica, estou na torcida. Não aceito que meu corpo passe por todos aqueles estados fétidos de depuração, que eu simplesmente deixe de existir um dia. Uma ocidental birrenta e mimada.

Esses últimos dias - antes do ano novo, me peguei sendo um estranha em meio a multidão. Eu não fiz nenhuma lista, mental ou escrita, de metas para o novo ano, nem fiquei desejando que ele chegue logo porque irá ser melhor, e pior : deixei de fazer todas essas coisas me sentindo ansiosa. Pois é. Hoje é dia 28 de dezembro, e não tenho esperanças de que isso ainda ocorra antes da virada. Todo ano era a mesma coisa, eu seguia o ritual, internamente racionalizando o quanto aquilo é estúpido, mas vamos lá, quantas coisas eu não faço sabendo o quanto é ridículo e emocionalmente me sinto, mesmo assim, feliz por fazê-lo? Isso é típico de quem analisa de mais, pensa de mais, e essa, absolutamente, sou eu. O fato é que, não há nada a se pensar sobre o ano novo, o mundo explodi lá fora, há riqueza e fome,rainhas e escravos, patrões e empregados. Nós, aqueles que não são as rainhas ou os patrões vamos continuar nos submetendo a isso, calados. Aliás, vamos morrer calados porque nos disseram que essa é a natureza das coisas, colocaram armas em nossas cabeças, haverá de fato uma saída? não conseguimos pensar em uma porque já fomos enganados o suficiente. Se devia haver um plano para o próximo ano, ele devia ser fazer a revolução.

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